Minha vida igualava-se a um furacão, mas o meu melhor amigo sempre esteve comigo. Que estranho dia aquele 18 de abril, na verdade, tudo andara estranho quando se tratava de Lucas. Desde o que ocorrera no verão retrasado, mantivemos uma amizade. Nesse tempo, conheci outra pessoa, namorei com ela e acabei me decepcionando muito. Como sempre, meu melhor amigo estava ao meu lado para me ajudar a lidar com o turbilhão de emoções que vieram junto com os acontecimentos entre eu e meu ex. Ainda assim, as coisas com o Lucas não se encaixavam, tampouco se resolviam. Numa tentativa de tentar-me fazer entender, começarei o relato por meados de março.
Namorava Gabriel fazia pouco menos de um ano quando descobri que ele estava me traindo com outra pessoa. A primeira reação que tive foi a raiva, a explosão. Depois parei para pensar "O que eu tenho de errado?" e a resposta que encontrei com o passar dos anos é que o problema nunca esteve e nem estará em mim, pois, não traí a confiança da outra pessoa, fora ele quem traíra a minha. Eu não tinha nada de errado, ao meu ver, isso somente demonstrara fraqueza no caráter dele.
Na tarde seguinte a essa fatídica descoberta, estava completamente transtornada na sala de aula. Lucas sentou para conversarmos, logo comecei a chorar e contei o que havia se sucedido. Ele, por sua vez, acalmou-me e me acompanhou até o terminal. No caminho, me abraçou, tentou limpar minhas lágrimas e disse "minha menina de ouro", pensando nesse assunto mais tarde, isso causou certa confusão em minha cabeça. Será que ele sentia algo por mim?
Éramos sim, muito próximos, por vezes perguntavam se estávamos namorando, mas será que não era apenas uma amizade muito forte, como irmãos? Lucas sempre cuidara de mim, como ninguém. Dividi esses pensamentos com minha amiga e confidente, ela achou que tal teoria teria sim fundamento, mas se eu estava pensando em perdoar Gabriel, por que pensar nela? E eu estava pensando em perdoar Gabriel? Ele me fizera muito mal, não tenho palavras para descrever como estava me sentindo com relação a isso, mas ainda o amava, ou pelo menos achava que o amava. Lucas era um doce, o tipo de homem que você facilmente confundiria com um personagem literário. Tínhamos vivido um amor de verão no ano passado, pelo tempo, possivelmente os sentimentos esfriaram, ou será que não? Por outro lado, parecia que ele estava cada vez mais próximo de Alice. Eu poderia sim estar confundindo a situação, ele nunca havia mencionado o que ocorrera no verão. Alice sim, inclusive me perguntara se eu gostaria de ter algo com ele novamente, no ano passado. Talvez Alice e Lucas estivessem tendo algo, ou o início de algo.
Não sei ao certo o motivo, mas essa hipótese causou-me ciúme. Eu poderia sentir ciúme, certo? Ele era meu melhor amigo, se estivessem de fato juntos, então nos afastaríamos. Tentei convencer-me que era apenas isso.
Acabei por reatar com Gabriel, estava magoada, porém, ele aparentava estar arrependido. Todos merecem uma segunda chance, não é mesmo? Ao mesmo tempo, não sentia como se pudesse ser algo duradouro, era como se ter reatado era por não ter uma opção, por estar presa a ele de alguma maneira, e era? Milhares de perguntas, pouquíssimas respostas. Entre brigas e mais brigas com Gabriel, findei por romper novamente.
Não contara a Lucas, porém, ele percebera que algo estava errado, que eu não me encontrava realmente bem, como tinha alegado durante toda aquela manhã entre as diversas aulas do ramo de Estudos Sociais. Ainda teríamos mais algumas aulas durante a tarde, por conta disso, almoçamos juntos. Após o almoço, eu gostaria muito de dormir alguns minutos, quem sabe assim pudesse esquecer os problemas que tanto tinham me tirado o sono na última noite. Porém, Lucas parecia disposto a fazer qualquer coisa, menos me deixar dormir. Não sei por qual motivo aceitei sua companhia no meu lugar favorito em todo aquele campus, talvez porque inconscientemente eu a quisesse muito. Ele sempre me alegrara, de todas as formas possíveis, fazia com que os maiores problemas parecessem apenas migalhas e eu amava isso nele, aquela positividade.
Aquela quinta-feira de abril andara realmente estranha. Lucas estava muito mais carinhoso que o normal, pensando na situação, vejo vários indícios do que poderia ter feito, ou melhor, do que poderia ter sido.
Ao chegarmos, acabei por escorregar na grama e ele me segurou. Parecia que quando me encontrava perto dele, meu corpo adorava aprontar esse tipo de situação. Passamos um tempo nos empenhando em virar estrelinha e plantar bananeira, sem sucesso. Sentamos na varanda da casa sustentável, esse era um dos projetos desenvolvidos pelos acadêmicos de arquitetura e urbanismo, simplesmente amava aquele local.
A primeira coisa que ele fizera fora me puxar para deitar em seu colo, conversamos sobre vários assuntos, enquanto ele mexia em meu cabelo. Me encontrava mal humorada devido ao sono, no entanto, não foi um empecilho para que ele continuasse a contar suas piadas ruins, que se tornavam tão boas em sua boca. E que boca. Saudade daqueles lábios. Espera! Por qual motivo eu estava conjecturando sobre a boca do meu melhor amigo? Ao máximo, procurei pensar em outras coisas. Nossa, como o dia se encontrara bonito hoje, ensolarado, contudo, Lucas tentando plantar bananeira estava muito mais e aquele sorriso que fazia o furinho no queixo aparecer? Realmente, parecia que qualquer pensamento logo se tornava algo relacionado a ele, que estranho.
Não estava desconfortável, tampouco me encontrava totalmente aconchegada naquela circunstância. Era uma situação inusitada, não conseguia compreender o que estava acontecendo dentro de mim. Por outro lado, devo admitir que a companhia era agradável. Entre provocações e leves empurrões, acabamos rolando na sutil inclinação do gramado. Rimos muito, mas ele olhava fixamente para mim, e como eu gostaria de beijá-lo. Por que não o beijei? Bem, acho que não seria justo arrastá-lo para a confusão que andara vivenciando, ainda mais com Gabriel ainda tão próximo. Era possível que de alguma forma existissem sentimentos por ambos dentro do meu coração? Não podia magoá-lo de forma alguma. Inventei uma desculpa qualquer para sairmos do local, subimos para a sala de aula.
Nenhum comentário foi feito sobre o que ocorreu, exceto sobre nossas roupas que se encontravam um pouco sujas de terra e grama.
Passamos as próximas semanas sem conversar, parecia que estávamos cada vez mais ocupados com provas, trabalhos e todo o restante. Mal via Lucas, estava realmente ocupada em meus projetos pessoais, havia reatado com Gabriel mais uma vez. Nosso relacionamento era completamente instável, porém, eu não conseguia romper definitivamente. Minha psicóloga sugeriu que me afastasse, pessoas muito próximas a mim, disseram que ele não me fazia bem, mas tudo iria melhorar, não é mesmo? As pessoas poderiam de fato mudar, certo?
Estávamos perto das avaliações finais, realmente, fazia algum tempo que não conversava com Lucas. Parecia que nossa amizade tinha esfriado de certa forma. Ou talvez, ele de fato estivesse com Alice. Diversas vezes notei proximidade entre eles e isso me incomodava um pouco, apenas não tinha um motivo exato. Por que eu estava interessada na vida amorosa dele? Eu já tinha meu relacionamento, não tinha motivos. Por fim, joguei esses pensamentos para o fundo de minha mente, tinha outras coisas para me preocupar como a segunda avaliação daquele terror que era Análise de Circuitos em Corrente Alternada, os diversos relatórios, meu chefe que a cada dia se encontrava mais insuportável, dia dos namorados chegando e junto com ele, aniversário de namoro.
Com o passar dos dias, Lucas me procurou e acabamos conversando sobre provas e outros assuntos diversos, nada em específico. Nossa amizade não estava como antigamente, mas ainda estávamos próximos. Não tive coragem o suficiente para perguntar sobre seu envolvimento com Alice, no fundo, não sei se eu gostaria de saber a resposta.
Efetivamente, detesto dias de inverno. Acordei naquela quarta-feira, 17 de julho sentindo muito frio. Tomei um banho quente para relaxar, minha primeira avaliação de Análise era logo no primeiro horário da manhã. Coloquei minha manta rosa na mochila, estava muito frio e possivelmente minha versão do futuro iria gostar de dormir no intervalo entre a primeira e a segunda avaliação. Entrei no ônibus e desci no ponto em frente ao bar, perto da universidade. Parei na cantina comprar um café, ainda me encontrava sonolenta. Peguei o elevador e subi até o terceiro andar, onde faria minha prova. Fui a primeira a chegar, ainda faltavam dez minutos para o início da aula. Aproveitei para revisar alguns exercícios e fórmulas.
Estava realmente nervosa quando comecei a resolver as questões, consegui fazer boa parte, mas ainda assim deixei algumas em branco. Minha esperança era que a prova da tarde acabasse por me salvar da reprovação. Concluí o exame em questão, saí do prédio e fui para a arquibancada, ainda faltava um bom tempo para o horário de almoço. Aquele era o último dia letivo, por isso, a universidade se encontrava tão vazia. Ainda estava aflita com relação a nota e decidi esperar o professor publicar o gabarito para poder conferir como havia me saído. Estava esperançosa, mas não fui nada bem. Bem, ainda não estava reprovada, poderia fazer a segunda avaliação no segundo horário da tarde.
Durante o almoço, contatei meu namorado e comentei que me encontrava nervosa, com medo de não conseguir e ter que refazer a disciplina. Ele pouco deu atenção, para ser mais exata, ignorar é o verbo adequado. Enquanto aguardava retorno, mandei mensagem para Lucas e perguntei se ele já estava de férias, ele respondeu que não, que estava na sala de física aguardando para fazer uma prova e que eu poderia encontrá-lo lá. Sem retorno de Gabriel, decidi por encontrar Lucas, ainda teria um bom tempo até o teste.
Conversamos muito e ele me ofereceu certo consolo, disse que tudo ficaria bem, de uma forma ou de outra, e saí daquela conversa demasiadamente confiante para realizar aquela bendita avaliação.
Finalizei o teste, estava complicado, mas talvez existisse, no fim do túnel, uma esperança de que tive me saído bem o suficiente para ser aprovada. Aguardei a correção de minha prova, junto com o resultado final. Acabei por reprovar e ouvi palavras duras que presumivelmente foram merecidas.
Saí chorando do local, olhei para meu celular, nenhuma mensagem de Gabriel, mas Lucas havia perguntado se fui aprovada. Contei a ele que não. De resto, tudo passara-se como um borrão, estava deveras nervosa, dediquei-me muito e todo o esforço fora em vão. Parecia que eu não era capaz de coisa alguma, estava chegando na metade do curso e ainda arrastava uma dependência dos primeiros períodos.
Em questão de instantes, Lucas me encontrou em frente a cantina, fomos para a sala de física que se encontrara vazia naquele horário. Conversamos durante toda a tarde, perdemos completamente a noção do tempo. Estar com ele era uma sensação espetacular, me trazia conforto. Fazia com que me sentisse capaz e dissolvia todo aquele peso que inconscientemente carregava em minhas costas.
Várias vezes durante a conversa, entre um abraço e outro, senti vontade de beijá-lo, mas não era o certo. Encontrava-me comprometida com outra pessoa. Mesmo com todos os deslizes, não poderia agir da mesma maneira que ele agira comigo. Seria algo completamente contrário aos meus princípios.
Findei por despedir-me de Lucas e ir ao encontro de Gabriel no shopping. Ao ligar o celular, notei que haviam diversas mensagens e chamadas perdidas. Ele estava bravo porque estava um tanto atrasada para nosso encontro, mas se quer me perguntara sobre a prova, como estava me sentindo ou como foi meu dia.
Posteriormente, a noite somente piorou e hoje, me pergunto: O que teria acontecido se eu tivesse beijado Lucas naquele instante e indo contra meus princípios? Sei que não estaria sendo ética, mas preciso aplicar a moral quando trata-se de amor? Claramente seria um rompante, mas o amor não o justificaria? Mesmo que o que estivesse sentindo naquele momento não fosse amor e se encaixasse apenas como um ato impensado, o viver cada dia como se fosse o último já não se aplicaria? Pois lhe digo, por mais infundada que seja a ideia, faça-a!
O arrependimento do que poderia ter sido feito é muito maior. Conviver com ele é demasiadamente complicado.
Serão 3 textos, todos baseados em fatos de um romance real, porém, os nomes são em partes fictícios. O primeiro deles se encontra aqui. Te amo muito, meu amor!
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